Politiza

A cara encoberta da desordem

Marcelo Martins

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A seção 'Politiza' explica a ligação que grandes temas têm nas esferas políticas municipal, nacional e estadual. O objetivo é aproximar e explicar o assunto em evidência nos últimos dias e suas implicações para a vida do cidadão. O leitor pode sugerir pelo e-mail marcelo.martins@diariosm.com.br


Ultimamente, muito tem se dito a respeito dos chamados black blocs. No entanto, você sabe quem são e, principalmente, a origem desse movimento e, acima de tudo, a que se propõe? A edição do Politiza, deste fim de semana, traz a leitura de cientistas políticos, antropólogos, advogados e estudiosos a respeito do tema. No Brasil, das manifestações de junho do ano passado, em meio a um coro de brasileiros motivados em buscar mudanças para se ter um país melhor também surgiram jovens de rosto coberto que por onde passam deixam um rastro de destruição e de vandalismo. Em meio a uma atmosfera de violência e luta, por todo o país, esses manifestantes se valeram de coquetéis molotov, de pedras e de rojões para imprimir um ritmo de terror e de medo às pacíficas manifestações da maioria dos cidadãos que bradam por atenção de seus governantes. O saldo mais recente da atuação desses vândalos foi a morte do cinegrafista Santiago Andrade vitimado pelo rojão aceso e arremessado, em local público, pelo réu confesso, o jovem Caio Silva de Souza, de 23 anos.

O Politiza mostra como um movimento que prega o anarquismo, ou seja, a ausência de Estado tem a ver com a política e como ele pode impactar na sua vida. Originário de um movimento contracultural, idealizado na Itália da década de 70, o black bloc nada mais era do que um coletivo composto de estudantes independentes, donas de casa e, principalmente, de trabalhadores de fábrica não sindicalizados. Em sua essência, era um movimento radical de transformação social de civis não organizados. O movimento ganhou a Europa. Na década de 80, em meio a uma Guerra Fria a Alemanha também teve seus exemplares. Já no final dos anos 90, os black blocs ganham o mundo e aterrissam nos Estados Unidos. Em 2011, os black blocs participaram do Occupy Wall Street, em Nova York. E mais recentemente, os black blocs deram as caras (ainda que tapadas) aos brasileiros.

O cientista político e diretor-presidente do Instituto de Pesquisas e Projetos Sociais (Inpro), Benedito Tadeu César, avalia que os black blocs se resumem a protestar "contra tudo que está aí". Contudo, eles não se propõem a trazer algo novo:

_ Em alguns momentos, é passível o emprego de violência para se conseguir alcançar os objetivos. As grandes transformações históricas foram obtidas pelo emprego da violência e a sociedade brasileira tem tradição de violência. Esse movimento não tem foco e nem objetivo é um anarquismo fascista, ou seja, é o uso da violência pela violência, é o terror pelo terror.

Benedito avalia que há uma preocupante passividade e, inclusive, complacência da União e dos demais governos do Estado com esses vândalos. Para ele, essa leniência há uma explicação:

_ Hoje, os grandes estados são administrados por partidos de centro-esquerda e que sempre foram simpáticos a movimentos sociais e populares. Por isso, há certa identificação. A primeira ação desses governos é não reprimir e dar espaço. Se reprimir, o temor é de que as manifestações cresçam ainda mais, o que pode potencializar os protestos. Com isso, o governo fica na condição de espectador. O governo procura deixar a polícia de fora. Por quê? A polícia não é preparada. Se ela vai pra rua é pra dar porrada. Eles não têm condições técnicas e táticas.

Para Percival Puggina, escritor e professor da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, os black blocs atuam, sim, na ausência do Estado:

_ De um lado, os políticos perderam relevância na sociedade brasileira. Quem os ouve com atenção? De outro, há muito tempo perdeu-se no país o respeito pela propriedade co"

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